12 de mar. de 2014

breaking bad também me pegou, yo!

Não fui um dos que aderiram à história de Walter White & Cia. facilmente. Lembro que em 2012, quando Breaking Bad iniciou sua quinta (e última) temporada, ouvi muitas indicações e comentários positivos, mas confesso que na época não tinha interesse nenhum e só achava que era mais uma dessas produções hypadas pela mídia e pelo fandom. 2013 chegou e com ele os últimos capítulos da série que parecia ter se tornado hit e unanimidade em todos os cantos. Nos podcasts, blogs e sites voltados à cultura pop não se falava em outra coisa. Mas o incentivo que faltava para eu finalmente me render veio de um colega da faculdade, o Rodrigo. Ele começou a ver a primeira temporada e simplesmente surtou. Depois de vários elogios e "é foda, cara!", baixei o piloto. E aí fica difícil não fazer uma associação com a metanfetamina, que é um dos principais fios condutores da trama, para explicar a minha reação: me tornei um viciado em Breaking Bad.


Se pararmos para pensar, o plot da série não é nem de longe algo inovador e/ou fantástico. Um professor de química descobre que tem câncer e resolve entrar para o tráfico de metanfetamina, buscando com isso arrecadar dinheiro para proporcionar um futuro melhor para sua família. Somente com base nessas informações dá pra ver quais foram as influências da série, que vão de O Poderoso Chefão e Scarface até outro seriado bem famoso, Sopranos. Mas e a garantia de que isso daria certo? Porque não dá pra esquecer que estávamos falando sobre uma série de TV, que até alguns anos atrás, não era uma mídia muito bem vista na indústria do entretenimento. Bom, dá pra enumerar uma série de motivos e promover verdadeiros artigos acadêmicos sobre o sucesso de Breaking Bad (como fez o editor do site Brainstorm 9, no ano passado, com o texto "'Breaking Bad' e as novas regras da televisão"), mas vou me limitar a dois aspectos em especial, que, na minha opinião, servem como alicerces principais da série: roteiro e planejamento. Breaking Bad já nasceu com começo meio e fim definidos. Seu criador, Vince Gilligan, sabia para onde e como iria levar seus personagens durante os cinco anos da produção.

Podemos afirmar hoje que um dos principais temas (se não o principal) de Breaking Bad seja a ascensão e queda de Walter White. Embora seja muito divertido acompanhar o tímido e acuado professor de química ir conquistando aos poucos uma personalidade forte e intimidadora, não podemos esquecer que os meios que ele adotou para atingir o sucesso não são nem um pouco altruístas e positivos. Walter produziu sua fortuna através do sofrimento e destruição de muitas famílias, seja direta ou indiretamente. A produção e comercialização de sua metanfetamina atingiu níveis globais no decorrer da série. Com isso, podemos imaginar quantas pessoas, dependentes da droga, acabaram prejudicando a si mesmas e a outras pessoas próximas para manter o vício. Um exemplo claro disso é o personagem Jesse Pinkman (Aaron Paul), ex-aluno de Walter e viciado que tem sua vida mudada completamente ao se envolver no tráfico da metanfetamina. Aliás, Jesse deve ser outra unanimidade entre os admiradores da série, já que é difícil encontrar alguém que não goste do personagem. Em cada roubada que ele se mete por conta do Mr. White, cada "Yo!" e com o avanço da história, com as coisas tristes que vão acontecendo com esse menino, fica difícil não querer abraçar e ser amigo dele.


Nesse ponto, Vince Gilligan e sua equipe de criação acertam novamente. A empatia que criamos pelos personagens, por mais cheios de falhas e de caráter duvidosos que eles tenham, é resultado de um puta trabalho de desenvolvimento de roteiro. As preocupações com detalhes, as situações mais absurdas que surgem E SÃO SOLUCIONADAS (diferente de outras séries que vão acumulando buracos no roteiro e nunca retornam para solucioná-los)... é de bater palma de pé como fizeram um trabalho bem feito. Além disso, os coadjuvantes também dão um show e roubam a cena. O que dizer de Saul Goodman (Bob Odenkirk) e suas estratégias mirabolantes para escapar da polícia? E Hank Schrader (Dean Norris), com sua persistência na investigação? E Mike (Jonathan Banks)?! Gus?!

Essa preocupação com desenvolvimento e a criatividade aguçada da equipe de roteiristas também é percebida durante os episódios. "Dead Freight", "Say My Name" e "Ozymandias", da quinta temporada, são apenas três exemplos de episódios que são uma verdadeira montanha-russa de sensações.


Como nem tudo são flores, a série peca em muitos pontos que, infelizmente, não são exclusivos dessa produção. Embora a personagem Skyler White (Anna Gunn), esposa de Walter, tenha um grande destaque na trama ela é uma das pouquíssimas personagens femininas da série, o que não ajuda na representação favorável às mulheres - que nas poucas vezes em que aparecem na série servem basicamente como ferramentas para desenvolver os personagens masculinos. A Fer escreveu um texto muito bacana sobre a Sky no Sipnoses, que eu recomendo muito. Além disso, me senti bastante incomodado em alguns momentos com a retratação de personagens latinos. Extremamente estereotipados e quase sempre vilões, pouquíssimos tiveram a chance de brilhar na tela. O destaque acaba indo para Gus Fring (Giancarlo Esposito), que embora sendo um dos vilões, teve um desenvolvimento muito interessante.


Problemas à parte, fica aqui meu elogio pelo ótimo trabalho de Vince Gilligan e sua equipe em contar essa história, que sem dúvidas, foi um marco na televisão.

E pra terminar, uma dica: ASSISTA!


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